Previsão do Tempo
Dando continuidade às costumeiras especulações sobre o futuro em tempos pós-modernos (ou como preferirem chamar esta época maluca), eu me peguei chegando a conclusões meio estranhas ultimamente. Sobretudo neste contexto de eleições gerais, este cívico dever de exercer um direito, contraditório em si somente em países como o Brasil. Anyway, fiquei pensando sobre onde essa coisa toda vai parar dentro de uma lógica mais ou menos tosca, hiperbolizando processos que estão acontecendo agora.
Tenho falado aqui sobre tecnofobia, convivência e convergência virtual, seres humanos pós-orgânicos e tudo o mais que nossos antigos futuros nunca sonharam. Seria natural assimilar essa tecnocracia sutil e paulatinamente nas nossas vidas, e nossas relações dependendo cada vez mais dela, e redefinindo na verdade nossos parâmetros de pensamento e convivência. É um processo que já está acontecendo, como muitos já sabem e já vivem, enfim.
Por outro lado, uma outra coisa me veio à cabeça quando soube que o mais votado deputado estadual em Pernambuco é um popular pastor evangélico. Não me interpretem mal, não quero criticar a fé de ninguém – mas sempre achei questionável essa coisa de usar a fé para conduzir uma carreira política. A história já provou várias vezes que isso pode se tornar um perigoso equívoco. E, de toda forma, pautar uma plataforma política valendo-se apenas da fé das pessoas me parece tão grave quanto declarar-se representante inquestionável da ética, sem apresentar propostas, fatos ou atitudes em favor disso.
De um jeito ou de outro, fico pensando em outra parcela da população brasileira que engrossa suas fileiras e se sofistica cada vez mais em seus mecanismos: os crentes nessa fé religiosa cega. Ela se contrapõe, de certa forma, àquele modelo humano tecnocrático, que redimensiona, relativiza e rediscute as relações sociais. Mesmo tendo acesso à tecnologia e aos meios diversos de acesso a cyberculturas, essa ideologia neocristã termina formando um universo autosuficiente, com cultura própria, regras próprias e condutas próprias – cultura, regras e condutas que, não raramente, restringem certas liberdades permitidas por aquela outra sociedade, a tecnocrática.
Será que nossa versão oficial de futuro apocalíptico vai ser essa? O velho conflito entre fé cega e ciência cega? Será que estamos falando de uma perspectiva mágica e religiosa voltando a se contrapor a uma visão técnica e cética do mundo?
Tava pensando nisso quando o ônibus (de vez em quando essas reflexões ocorrem dentro dele, como vocês sabem) parou no sinal, numa parte da cidade em que sempre rola um engarrafamento básico. Um carro destes que só funciona com som alto destilava uma música “popular” falando algo sobre “raparigas”, “cabarés” e outros termos que dizem a mesma coisa: um macho querendo comer uma fêmea, enfim, sem usar de sutileza ou elegância para isso, mas valendo-se apenas do contexto hegemônico de gênero em que vivemos. Seria uma terceira corrente, corroborando para uma sociedade intermediária em que as mulheres só têm vez para serem submissas aos desejos dos homens.
Lembrei-me imediatamente de um artigo em que Laura Mulvey, um dos maiores nomes no estudo de cinema da atualidade, descrevia o prazer estético da experiência cinematográfica como uma repetição de processos sexuais, postulados anteriormente por Freud, que a fizeram chegar a uma conclusão preocupante: a mulher como objeto diante de um olhar predominantemente masculino. Mais uma forma de repressão de gênero, enfim, só que totalmente legitimada pela nossa sociedade de hoje. Ou pelas nossas sociedades de hoje. Se isso é freqüente dentro do cinema, essa forma de arte que chama à reflexão tanto quanto é item fundamental de sobrevivência cultural, avalie nos contextos demagógicos e acríticos das mídias de massa.
Vislumbrando essas possibilidades (ainda bem que se tratam apenas de possibilidades, pelo menos por enquanto), confesso que fiquei bem preocupado com o nosso mundo pós-apocalíptico. Se a hipérbole especulativa virar regra, vamos viver num mundo que nem Heinlein, Asimov ou Koontz poderiam pensar.
Parece, novamente, que a realidade imediata é capaz de superar a mais fértil imaginação.
Tenho falado aqui sobre tecnofobia, convivência e convergência virtual, seres humanos pós-orgânicos e tudo o mais que nossos antigos futuros nunca sonharam. Seria natural assimilar essa tecnocracia sutil e paulatinamente nas nossas vidas, e nossas relações dependendo cada vez mais dela, e redefinindo na verdade nossos parâmetros de pensamento e convivência. É um processo que já está acontecendo, como muitos já sabem e já vivem, enfim.
Por outro lado, uma outra coisa me veio à cabeça quando soube que o mais votado deputado estadual em Pernambuco é um popular pastor evangélico. Não me interpretem mal, não quero criticar a fé de ninguém – mas sempre achei questionável essa coisa de usar a fé para conduzir uma carreira política. A história já provou várias vezes que isso pode se tornar um perigoso equívoco. E, de toda forma, pautar uma plataforma política valendo-se apenas da fé das pessoas me parece tão grave quanto declarar-se representante inquestionável da ética, sem apresentar propostas, fatos ou atitudes em favor disso.
De um jeito ou de outro, fico pensando em outra parcela da população brasileira que engrossa suas fileiras e se sofistica cada vez mais em seus mecanismos: os crentes nessa fé religiosa cega. Ela se contrapõe, de certa forma, àquele modelo humano tecnocrático, que redimensiona, relativiza e rediscute as relações sociais. Mesmo tendo acesso à tecnologia e aos meios diversos de acesso a cyberculturas, essa ideologia neocristã termina formando um universo autosuficiente, com cultura própria, regras próprias e condutas próprias – cultura, regras e condutas que, não raramente, restringem certas liberdades permitidas por aquela outra sociedade, a tecnocrática.
Será que nossa versão oficial de futuro apocalíptico vai ser essa? O velho conflito entre fé cega e ciência cega? Será que estamos falando de uma perspectiva mágica e religiosa voltando a se contrapor a uma visão técnica e cética do mundo?
Tava pensando nisso quando o ônibus (de vez em quando essas reflexões ocorrem dentro dele, como vocês sabem) parou no sinal, numa parte da cidade em que sempre rola um engarrafamento básico. Um carro destes que só funciona com som alto destilava uma música “popular” falando algo sobre “raparigas”, “cabarés” e outros termos que dizem a mesma coisa: um macho querendo comer uma fêmea, enfim, sem usar de sutileza ou elegância para isso, mas valendo-se apenas do contexto hegemônico de gênero em que vivemos. Seria uma terceira corrente, corroborando para uma sociedade intermediária em que as mulheres só têm vez para serem submissas aos desejos dos homens.
Lembrei-me imediatamente de um artigo em que Laura Mulvey, um dos maiores nomes no estudo de cinema da atualidade, descrevia o prazer estético da experiência cinematográfica como uma repetição de processos sexuais, postulados anteriormente por Freud, que a fizeram chegar a uma conclusão preocupante: a mulher como objeto diante de um olhar predominantemente masculino. Mais uma forma de repressão de gênero, enfim, só que totalmente legitimada pela nossa sociedade de hoje. Ou pelas nossas sociedades de hoje. Se isso é freqüente dentro do cinema, essa forma de arte que chama à reflexão tanto quanto é item fundamental de sobrevivência cultural, avalie nos contextos demagógicos e acríticos das mídias de massa.
Vislumbrando essas possibilidades (ainda bem que se tratam apenas de possibilidades, pelo menos por enquanto), confesso que fiquei bem preocupado com o nosso mundo pós-apocalíptico. Se a hipérbole especulativa virar regra, vamos viver num mundo que nem Heinlein, Asimov ou Koontz poderiam pensar.
Parece, novamente, que a realidade imediata é capaz de superar a mais fértil imaginação.
3 Comments:
parabéns pelo blogue.
Para muitos cegos, o presente já é apocalíptico... Quanto aos fundamentalistas, acho que estão mais entre os crentes da fé, embora a ciência inspire na maioria de nós temores e anseios semelhantes. Devíamos seguir os bons exemplos: os grandes da religião e da ciência foram os que mantiveram pelo menos um olho aberto... Abraço.
Estando Pietrin Sorokin certo sobre as mudanças flutuantes de valores, poderemos estar surfando sobre a onda de ascenção-declínio de um novo-velho ciclo. Especulação, apenas. Sobre arquitetura posso dizer que pós-moderno é passado. Nota-se que o gráfico formado a partir dos estudos que buscavam (ou buscam, cada qual com o seu tempo verbal) a "síntese" da história ocidental (seria possível - "síntese"?) .... bem, nota-se que o gráfico se desenha sobre um plano cartesiano. Descartes e seu legado classificatório. Ah (!), o futuro... "Popular", entre aspas? MPB - Música Popular Brasileira - Caetano Veloso - cem reais no Teatro do SESI. Popular? Conceitualizar não é classificar (ou seria mesmo uma de suas formas?) Pergunto-me sempre: o que é inerente no ser humano? (ser-estar; Être, to be - temos vantagem.) Que ao menos tenhamos o "soma" de Huxley no seu Admirável Mundo Novo. Desculpem-me se peguei a rua errada. Abraços.
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