Meios para os fins (Modernidade Ultrapassada - 2ª parte)
Neste fim-de-semana, fui a uma festa intimista com alguns amigos. Entre outras atividades nós nos divertimos escutando a mash-ups, remixagens de bases de músicas relativamente conhecidas com linhas harmônicas de outras músicas relativamente conhecidas também, resultando em misturas ora interessantes, ora bizarras, sempre engraçadas. Uma das bandas mais exploradas para a brincadeira eletrônica eram os Beatles, a maior banda pop de todos os tempos, na opinião deste escritor e de boa parte da população mundial. O dono da festa tinha a preocupação de se desculpar para com alguns fãs confessos, boa parte da população da festa, em mexer com algo que seria quase religioso.
No entanto, os fãs presentes no recinto eram o tipo de fãs um pouco mais comedidos, realmente admiradores da vasta obra dos rapazes de Liverpool, porém não extremistas o suficiente para considerar qualquer tipo de brincadeira uma blasfêmia excomungável, ou para odiarmos incondicionalmente Paul McCartney e Yoko Ono por terem tido a atribuição de responsabilidade pelo fim da banda. Na verdade, um outro amigo chegou a dizer que era grato a eles, justamente por terem colocado fim à banda quando ela tinha mesmo que acabar. Apesar de idolatrar os Beatles desde criancinha e seguir com muito interesse as carreiras solos dos seus ex-membros, não pude deixar de dar razão a este meu amigo. Ele tinha toda a razão: os Beatles acabaram no momento certo. Justamente por terem terminado num momento tão bom, em aspectos artísticos, expressivos e culturais, eles conseguiram se eternizar e ganhar o status de mito.
É claro que esta é uma posição pouco aceita pela maioria daquela boa parte da população mundial que é fã dos Beatles. A máxima Beatles 4 Ever deveria ser aplicada de forma física mesmo, muito mais do que metafísica. Isto porque não fomos treinados, no decorrer da nossa vida, a aceitar e lidar com a idéia de fim. Mesmo conscientes de que é pra onde tudo caminha, de que a realidade é fugaz, de que a morte faz parte da vida, e blá-blá-blá, estamos pouco preparados para isto. É fato. Ou melhor, é quase clichê de tão fato que é.
Nas minhas viagens usuais, liguei estes pensamentos com aquela discussão que estabeleci, alguns textos atrás neste espaço, sobre o aspecto fugidio das relações entre os diversos elementos da cultura pós-moderna, em todos os seus aspectos. Mesmo lidando com fins praticamente instantâneos, o próprio conceito de término parece gerar uma contradição em si, acentuando o conflito de novas realidades sendo formadas freneticamente contra outras já formatadas e consagradas no tempo histórico.
Uma das principais discussões neste ambiente pós-moderno, por exemplo, é a questão do mercado musical. Talvez já tenha mencionado (aqui ou em conversas) que não me parece fazer muito sentido aplicar uma lógica de mercado capitalista mercantil a um ambiente virtual. Por isto, mesmo diante de tantas tentativas de embargo e taxações das grandes gravadoras, as pessoas continuam baixando música free da internet e não se sentem minimamente culpadas por conta disto.
No “fim” das contas, parece mesmo que o próprio sistema capitalista está com dificuldades de lidar com seu fim, ou com o redimensionamento de seus mecanismos de existência, se quisermos ser delicados e não falar tão diretamente no assunto. Não estamos diante de uma simples mudança de mercado – isto é apenas emblemático. Estamos diante de uma revolução paradigmática, em que a lógica social, política e econômica deve mudar, para poder chegar a um pensamento que comporte as inevitáveis mudanças (internas e externas) e o impacto dessas mudanças no nosso cotidiano.
Parece-me uma atitude possível nos colocarmos numa posição de revisão constante de nossas vidas, e uma postura constante de fins e recomeços, para tentar entender a dinâmica de uma sociedade que parece se constituir de forma quase alheia. Encontrar, enfim, um “meio”, um método de lidar com essa infindável quantidade de fins a que estamos expostos. E que nunca vão acabar, exatamente por serem fatos da vida.
No entanto, os fãs presentes no recinto eram o tipo de fãs um pouco mais comedidos, realmente admiradores da vasta obra dos rapazes de Liverpool, porém não extremistas o suficiente para considerar qualquer tipo de brincadeira uma blasfêmia excomungável, ou para odiarmos incondicionalmente Paul McCartney e Yoko Ono por terem tido a atribuição de responsabilidade pelo fim da banda. Na verdade, um outro amigo chegou a dizer que era grato a eles, justamente por terem colocado fim à banda quando ela tinha mesmo que acabar. Apesar de idolatrar os Beatles desde criancinha e seguir com muito interesse as carreiras solos dos seus ex-membros, não pude deixar de dar razão a este meu amigo. Ele tinha toda a razão: os Beatles acabaram no momento certo. Justamente por terem terminado num momento tão bom, em aspectos artísticos, expressivos e culturais, eles conseguiram se eternizar e ganhar o status de mito.
É claro que esta é uma posição pouco aceita pela maioria daquela boa parte da população mundial que é fã dos Beatles. A máxima Beatles 4 Ever deveria ser aplicada de forma física mesmo, muito mais do que metafísica. Isto porque não fomos treinados, no decorrer da nossa vida, a aceitar e lidar com a idéia de fim. Mesmo conscientes de que é pra onde tudo caminha, de que a realidade é fugaz, de que a morte faz parte da vida, e blá-blá-blá, estamos pouco preparados para isto. É fato. Ou melhor, é quase clichê de tão fato que é.
Nas minhas viagens usuais, liguei estes pensamentos com aquela discussão que estabeleci, alguns textos atrás neste espaço, sobre o aspecto fugidio das relações entre os diversos elementos da cultura pós-moderna, em todos os seus aspectos. Mesmo lidando com fins praticamente instantâneos, o próprio conceito de término parece gerar uma contradição em si, acentuando o conflito de novas realidades sendo formadas freneticamente contra outras já formatadas e consagradas no tempo histórico.
Uma das principais discussões neste ambiente pós-moderno, por exemplo, é a questão do mercado musical. Talvez já tenha mencionado (aqui ou em conversas) que não me parece fazer muito sentido aplicar uma lógica de mercado capitalista mercantil a um ambiente virtual. Por isto, mesmo diante de tantas tentativas de embargo e taxações das grandes gravadoras, as pessoas continuam baixando música free da internet e não se sentem minimamente culpadas por conta disto.
No “fim” das contas, parece mesmo que o próprio sistema capitalista está com dificuldades de lidar com seu fim, ou com o redimensionamento de seus mecanismos de existência, se quisermos ser delicados e não falar tão diretamente no assunto. Não estamos diante de uma simples mudança de mercado – isto é apenas emblemático. Estamos diante de uma revolução paradigmática, em que a lógica social, política e econômica deve mudar, para poder chegar a um pensamento que comporte as inevitáveis mudanças (internas e externas) e o impacto dessas mudanças no nosso cotidiano.
Parece-me uma atitude possível nos colocarmos numa posição de revisão constante de nossas vidas, e uma postura constante de fins e recomeços, para tentar entender a dinâmica de uma sociedade que parece se constituir de forma quase alheia. Encontrar, enfim, um “meio”, um método de lidar com essa infindável quantidade de fins a que estamos expostos. E que nunca vão acabar, exatamente por serem fatos da vida.
5 Comments:
Pois é, Leo.
E ainda temos problemas maiores em tempos de - na falta de uma expressão mais adeqüada - pós-modernidade:
1. Os eventos da vida são únicos e irrepetíveis, e a percepção e a valoração de tais fats são um verdadeiro "abismo" de compreensão do mundo;
2. A pluralidade e o fracionamento do que é moral. Hoje, não há mais como afirmar que exista um conteúdo moral de conteúdo universal;
3. Isso nos dá algumas alternativas: a impossibilidade de fixar o que é a razão e o racional ou a determinação racional sem fixar conteúdos, por meio de um procedimento discursivo.
E o que fazer?
Ah, se eu soubesse...
Abração
Onde se lê "um conteúdo moral de conteúdo universal", leia-se "uma moral de conteúdo universal". Dá um desconto tb na repetição do "fixar".
Eis o problema de escrever correndo... Hehehehehehehhe
Abração
Concordo com a idéia do texto de que não lidamos bem com final, fim, morte etc... mas isso é sintomático da população ocidental como um todo. Geralmente se prefere a continuidade, mesmo que resultando em declínio (mas um declínio presente e palpável).
Claro que vivenciar o declínio ajuda a se desapegar e aceitar melhor o fim (como a carreira de um artista pode estar nas últimas...).
Só acho que quando você diz "melhor revolução paradigmática, em que a lógica social, política e econômica deve mudar" cria um impacto na leitura, but that's beside the point.
Abração!
eu concordo com o texto e os beatles são um ótimo exemplo. outra coisa que preocupa nos dias de hoje é o que eu chamo de "lógica da pressa", que está presente em todas essas situaçãoes, mas principalmente no vazio moral típico do nosso tempo em que não é possivel medir e valorizar os meios utilizados pra se atingir certos fins justamente porque nós não "temos" tempo para fazer esse tipo de pergunta, surge de lado outra preocupação e outra e outra...é sintomático perceber que ainda nos anos 1960 os próprios beatles tentaram de alguma forma fugir dessa "pressa" optando pela meditação transcedental, mas com pouco sucesso. à exceção de harrison, mas vide a letra de sexy sadie...ruru
(!!!) muito bom.
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