Perspectiva Cósmica
Relatório de um pequeno exercício de abstração.
Meados de uma tarde atrasada de quinta-feira, dirigindo pra casa com Cecília no banco do carona, passamos à frente de um grande parque no Recife, e retardo o carro com uma freada suave para deixar passar um sujeito ímpar como tantos outros, aspecto sujo de mendigo apesar do corpo aparentemente saudável exibido pela ausência da camisa. Os cabelos desgrenhados antecipavam uma certa dispersão extrema, confirmada segundos depois pela conclusão de que ele falava sozinho, discutindo energicamente com o nada.
Possivelmente, outros carros com os movimentos ralentados por conta do sujeito em questão caminhando sem rumo tenham simplesmente ficado no estereótipo (que talvez lhe seja adequado) e dito: “Que cara doido!” Eu, de fato, pensei o mesmo, mas logo depois um pensamento verbalizado me tomou a palavra: “Esse cara é a humanidade”. Diante do olhar curioso de Cecília (e talvez de um leitor posterior deste blog), rapidamente me fiz explicar.
Imagine que um explorador alienígena, cuja raça cientificamente avançadíssima já tenha descoberto, entre outras coisas, como navegar distâncias interestelares e como prolongar suas vidas de modo a tirar proveito disto. E imagine que uma sede de conhecimento similar àquela que carregamos o tenha levado a observar com particular interesse um certo planeta azul brilhante em meio a um deserto galáctico inóspito e improdutivo. E agora imagine que ele tenha observado com tanta curiosidade e esmero nossa história que seja capaz de perceber todo esse processo de mundo virtual que está sendo criado via avanços nas ciências da computação – enfim, isto que venho insistindo em discutir por aqui com meu deslumbramento tecnofóbico.
Nosso amigo tem consciência das infinitas dimensões do Universo. E na sua jornada pelo conhecimento, tomada na direção da expansão dos limites das informações, já esteve em lugares que o Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams ainda não registrou. Seria possível esperar que ele olhasse para a espécie aparentemente dominante da Terra e estranhasse a sua atitude de, em vez de estar tentando abranger seu alcance de conhecimento para além dos limites de sua atmosfera, estar criando um mundo endógeno, para uso interno, e complexificando este mundo cada vez mais. E talvez sentisse a vontade de chegar, segurar firmemente o eixo do planeta e chacoalhá-lo com energia, repetindo: “Saia daí de dentro! Há um universo aqui fora!”
Ou, ao invés disto, ele simplesmente pegasse sua espaçonave, desse ré e arrancasse para um outro fim do universo, pensando com seus botões brilhantes: “Que planeta doido!”
Meados de uma tarde atrasada de quinta-feira, dirigindo pra casa com Cecília no banco do carona, passamos à frente de um grande parque no Recife, e retardo o carro com uma freada suave para deixar passar um sujeito ímpar como tantos outros, aspecto sujo de mendigo apesar do corpo aparentemente saudável exibido pela ausência da camisa. Os cabelos desgrenhados antecipavam uma certa dispersão extrema, confirmada segundos depois pela conclusão de que ele falava sozinho, discutindo energicamente com o nada.
Possivelmente, outros carros com os movimentos ralentados por conta do sujeito em questão caminhando sem rumo tenham simplesmente ficado no estereótipo (que talvez lhe seja adequado) e dito: “Que cara doido!” Eu, de fato, pensei o mesmo, mas logo depois um pensamento verbalizado me tomou a palavra: “Esse cara é a humanidade”. Diante do olhar curioso de Cecília (e talvez de um leitor posterior deste blog), rapidamente me fiz explicar.
Imagine que um explorador alienígena, cuja raça cientificamente avançadíssima já tenha descoberto, entre outras coisas, como navegar distâncias interestelares e como prolongar suas vidas de modo a tirar proveito disto. E imagine que uma sede de conhecimento similar àquela que carregamos o tenha levado a observar com particular interesse um certo planeta azul brilhante em meio a um deserto galáctico inóspito e improdutivo. E agora imagine que ele tenha observado com tanta curiosidade e esmero nossa história que seja capaz de perceber todo esse processo de mundo virtual que está sendo criado via avanços nas ciências da computação – enfim, isto que venho insistindo em discutir por aqui com meu deslumbramento tecnofóbico.
Nosso amigo tem consciência das infinitas dimensões do Universo. E na sua jornada pelo conhecimento, tomada na direção da expansão dos limites das informações, já esteve em lugares que o Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams ainda não registrou. Seria possível esperar que ele olhasse para a espécie aparentemente dominante da Terra e estranhasse a sua atitude de, em vez de estar tentando abranger seu alcance de conhecimento para além dos limites de sua atmosfera, estar criando um mundo endógeno, para uso interno, e complexificando este mundo cada vez mais. E talvez sentisse a vontade de chegar, segurar firmemente o eixo do planeta e chacoalhá-lo com energia, repetindo: “Saia daí de dentro! Há um universo aqui fora!”
Ou, ao invés disto, ele simplesmente pegasse sua espaçonave, desse ré e arrancasse para um outro fim do universo, pensando com seus botões brilhantes: “Que planeta doido!”
13 Comments:
pode ser curto, mas tá muito bom. e eu acho q sei quem é esse cara, hoje o vi andando na rua duas vezes pelo meu bairro.
Hahaha. Lovely.
Eu sempre me perguntei como um "outro" externo mais "coerente" olharia as opções de vivência contraditórias daqui da terra.
Sempre imagino que devemos ser criaturas bem interessantes de se olhar, de um ponto de vista Xenológico :) Sei lá, talvez como aquelas ninhadas de hamsters. Eles também fazem coisas sem sentido, tipo... correr em rodinhas sem chegar a lugar algum! As vezes é exatamente essa a impressão que eu tenho quando leio o jornal do dia...
é, a verdade nos deixa cego...e a intolerância é nossa pior inimiga...algumas vezes consigo fugir para um outro fim universal...e outras não por conta dessa correria megabytiana...=]
até a próxima leitura =]
Leo, lendo sua "perspectiva cósmica" pensei em 3 coisas... a primeira foi um comentário que o Carl Sagan, famoso e respeitado Astrônomo uma vez fez. Ele disse: "A pergunta correta não é se há vida inteligente fora do planeta Terra mas sim se existe a tal chamada "vida Inteligente" DENTRO do Planeta Terra... se um ser de uma civilização avançada desse uma olhada no estado em que as coisas estão: guerras, injustiças sociais políticas e economicas, com certeza chegaria a conclusão de que não, não há vida inteligente no Planeta Terra"...
A segunda coisa que pensei foi no "De olhos bem fechados", do Kubrik... no final do filme, de uma aparente banalidade, para mim, é de uma significancia profunda, especialmente vindo do homem que ousou ir tao longe, lá longe, no espaço. Termina, em seu último filme, na última cena, "praticamente dizendo": O universo é aqui, é dentro, é a comunicaçao profunda entre 2 pessoas, é o presente concreto e real e todo o resto é apenas distração... a terceira coisa que pensei já nao quero mais falar agora, já ocupei muito espaço... espaço... hehehe... abraços!
Eita mundinho complexo esse, em?
quem é o outro?
quem é o louco?
de quem são esses rótulos?
tá tudo nos olhos de quem vê!
mesmo quando abstraímos e imaginamos um olhar alheio...
esse olhar é pura criação da nossa mente projetada naquele que denominamos como um outro...
Deu no jornal: alienígenas-otimistas-devoradores-de-informação não sabem da solidão...
Se ele fizesse isso, de ir embora os achando loucos... ele seria apenas mais um de nós...
Vc escreve muito bem... Encontrei um link p/ o seu blog no site da Abelhuda e gostei muito. Passarei aqui mais vezes...
Ok.
suponha-se que isso existe, mesmo.
mesmo assim eu ainda acho q o Paranoid Android d'O Guia do Mochileiro é bem mais intrigante e doido do que muita gente por aqui.
;P
PS: e eu AINDA acho também, q sim, vivemos na Matrix...
ninguem eh normal.
lembro de eu criança - morrendo de medo de um ataque de aliens...e hoje ainda tremo com a possibilidade. - infantilidade minha, ainda presente?
Eu gosto das pessoas que falam sozinhas.
é frustrante pensar que, certamente, o ser em questão acabaria tomando como ponto de referência isso pra todos os outros habitantes do planeta estranho.
sim, sim, pois digo isso porque inúmeras vezes me sinto como um alienígena que, chegando em um determinado planeta em uma determinada hora, não entende a língua, nem a expressão facil, muito menos os sinais que elas podem deixar escapar.
e ainda assim pergunta-se como é possível seres tão "humanóides" conseguirem viver sem se questionar o tempo todo sobre o tudo - ou o nada - que nos cerca.
acho que como ele, iria embora, sem nem tentar chacoalhar os humanóides, porque que chance eles teriam de descobrir o tudo sem primeiro eles mesmos tentarem se descobrir? só se descobrindo, eles poderiam tentar alcançar esse patamar.
enfim, acho que viajei lendo isso aqui.
nossa, seus textos são magníficos!
visitarei sempre.
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