Estudos sobre a Tristeza - prólogo
Nesta,
Pensei em não escrever nunca mais. Pensei em ser o rapaz bonzinho que sempre me submeti a ser, ora por amor, ora por mania de submissão mesmo, ora por nunca me achar grande coisa e portanto me considerar mais útil sendo parte da vida dos outros do que da minha própria. Acho que isso sempre terminou sendo muito confuso na minha cabeça. A coisa é que acabei de ver uma história de amor muito piegas porém muito bela e apresentada de forma bastante imaginativa (algo que por si me instiga) e como de costume tendo a procurar alguém pra compartilhar algo muito bom que sinto. Afinal de contas, algo de bom não serve pra mim. Eu não mereço. Não sozinho. Hoje eu tive essa nítida impressão.
A gente construiu algo muito bonito, posso ousar dizer. E a gente estava construindo algo melhor ainda, posso ousar dizer também. Mas parou no meio, infelizmente. Por escolha sua e por respeito meu, que no fim das contas, trata-se de uma escolha. Enfim, tudo é compreensível, era um espaço que você — e acredito que eu também — precisava, pra colocar o juízo no lugar e tocar a vida em frente. Sair da maldição da transição e pensar com clareza. Pensar um pouco em si, essa criatura tão esquecida no fundo da cabeça.
O fato é que a distância metafísica (aquela maior que a física) de fato surtiu um certo efeito, mas não funcionou completamente, feliz ou infeliz mente. Eu me distraí, mas não me esqueci. E aí me abandono à escrita numa noite de quinta como se fosse uma noite de sábado, entregando-me à quarta taça de vinho despejando poemas em prosa, ou prosa com intenção poética, que parece ser o máximo que posso extrair.
É fácil falar que o tempo vai dizer. Difícil é admitir que o futuro está em aberto, e que o presente é agora, e que o passado já foi, já deu, morreu, por menos linear que seja o tempo. Eu descobri recentemente que me arrependo apenas do que fiz de errado ou do que não fiz de certo. Do que me trouxe dor, por escolha ou permissão minha, eu não me arrependo. Acho que isso diz muito de mim.
Percebi que estou morrendo e que não quero perder mais nada da vida. Mesmo que seja sozinho.
Mesmo que seja com alguém.
Desejo
que você seja feliz
como o poema que você deseja ser
e o poema que eu
Desejo
escrever
.
Atenciosa e sinceramente,
…
(um personagem a ser inventado)