14 junho 2008

Obsolescência (Futuros Antigos - parte 1)

Sem desculpinhas. Vou escrever quando der e pronto. Tentar manter simples e constante, anyway, as usual. Vamos lá...

Vi que tinha iniciado uma série aqui no blog chamada "Modernidade Ultrapassada". Bem, me parece que o próprio conceito de modernidade já não cabe mais nem em termos de metáfora, enfim. Vou preferir retomar essas discussões sobre o tempo em que estamos - este, que está sempre misturado com o que está por vir - sob a chancela de "Futuros Antigos", que me parece mais abrangente.

Bom, estou escrevendo um artigo para terminar os créditos do Mestrado que tem justamente o mesmo título. Nele, faço um paralelo entre o histórico da ficção científica enquanto gênero narrativo e a própria história da humanidade, considerando o peso do imaginário tecnológico como condutor não apenas da filosofia, mas de certas configurações sociais mesmo. Velha viagem de cineasta deslumbrado.

Mas o que motivou este post foi uma discussão interessante que apenas iniciamos no recente CineDesign, evento aqui em Recife que reuniu alguns realizadores, técnicos e estudiosos desta interface entre cinema e design, cada vez mais intricada. No único dia que tive condições de ir, o Rodrigo Minelli - figura interessantíssima, realizador e professor de Minas - deu uma palestra acompanhada de diversos exemplos muito legais sobre o uso de mídias móveis como forma de expressão. Falou do contexto cultural destes novos meios, e das características de linguagem que ele exige: peças curtas, enquadramentos mais fixos e fechados, necessidade de uma imagem mais soberana do que nunca. Uma fruição efêmera como os nossos tempos, rápida, intensa, fugidia. O cinema como conhecemos já parece tão distante disto, que é inevitável pensar um pouco na vida e no futuro do meio.

Lembrei de uma conversa recente entre o Kleber Mendonça Filho e o Lula Queiroga lá no Sistema Jornal do Commércio de Comunicação. Falávamos um pouco de mercado e do cinema pernambucano, em como estamos num momento prolífero e expressivo, em como estamos sendo vistos como a produção mais vigorosa do país, em como tudo tem contribuído pra essa exposição toda. Chegamos, é claro, na questão mercado: Kleber atribuía essa exposição à diversidade intrínseca e profundidade expressiva dos realizadores pernambucanos, justamente por estarem desatrelados de um mercado estabelecido e portanto ligados a referências mais diversas e possibilitados de experimentar mais nos aspectos temáticos e estilísticos. Ao mesmo tempo, estabelecer um mercado que permita pessoas a viverem só de cinema, meta antes improvável, parece cada vez mais impossível. Veio à tona uma pergunta de Lírio Ferreira há dois anos num festival: “Pra quem a gente faz cinema?” Essa ausência de um mercado sistemático parece mesmo ser o preço que temos a pagar por nossa celebrada “vigorosidade” de produção.

Conversando com o Rodrigo Minelli esta semana, essa impressão me veio mais forte ainda. Perguntei-lhe como pensar num futuro para o audiovisual se parece que o próprio conceito de futuro, diante de uma infinidade de formatos e meios de produção, parece não ser mais pertinente. Vale mais a pena pensar em vários presentes que se alternam e se sucedem rapidamente, do que propriamente vislumbrar qualquer espécie de futuro. A resposta não poderia ter sido mais adequada para iniciar uma discussão. Sua opinião é de que o cinema como conhecíamos está fadado a ser superado, e que não recomenda ninguém começar a trabalhar com cinema nos nossos tempos. Curioso comentar isto justamente num evento sobre cinema, focado em estabelecer relações de mercado mais íntimas entre áreas afins. De toda forma, dentro de uma certa linha evolutiva, ele está mais do que certo.

Isto não necessariamente quer dizer aceitar uma certa postura apocalíptica em relação ao cinema. O desenvolvimento técnico, expressivo e mercadológico do cinema mostrou não ser linear em muitas coisas que se dava como certo: 3D, cheiros exalados na sala ou projeções em 180º foram experiências que não foram pra frente, porque o público em geral preferiu manter a tela reclusa, projetada numa única parede, como se fosse necessário evitar a imersão total, preservando esse distanciamento. De fato, foi esse hábito que permitiu nossa relação com o cinema se tornar minimalista, diminuindo cada vez mais as telas, numa volta improvável ao cinetoscópio do fim do século XIX.

Enfim, sabe-se lá o que vai ser daqui pra frente. Melhor estar mesmo aberto a tudo. Eu, no entanto, resolvi relaxar e me reconhecer como uma pessoa possivelmente obsoleta, advinda do século passado mesmo, com uma certa expectativa de produção e de apreciação em relação ao cinema. Espero que no meu asilo tenha pelo menos um home theater e uma videoteca razoável. Ou, pelo menos, que eu possa apagar as luzes e ver algo no meu laptop antes de dormir.

For the records, a abordagem deste tema está apenas começando. Abraços...
Creative Commons License
Leitor Ótico by http://leitor-otico.blogspot.com is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.